A aprovação do Projeto de Lei nº 3.565/2025 pela Câmara Municipal de Sarandi, que autoriza a doação de um terreno municipal no bairro Jardim França para a construção de uma casa de custódia com capacidade para 360 detentos, revela mais do que uma simples decisão administrativa.
A Sessão do Conflito
A sessão que aprovou o projeto foi um reflexo da tensão social que permeia a decisão. Protestos de moradores deixaram nervosos tanto os manifestantes quanto os parlamentares, forçando o presidente Dionísio a suspender temporariamente os trabalhos.
O Discurso do “Benefício”
Segundo Júlio César Franco, coordenador regional de Maringá do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen), “a articulação do prefeito Carlos Alberto de Paula (PSB) foi fundamental para trazer a obra para o bairro”. Essa narrativa de “trazer uma obra” como se fosse um presente para a comunidade é, no mínimo, questionável. Uma casa de custódia – estabelecimento destinado a abrigar pessoas que aguardam julgamento ou cumprimento de pena – não é exatamente o tipo de infraestrutura que comunidades reivindicam.
A Voz da Comunidade Ignorada
A moradora Vanessa sintetiza o sentimento de abandono: o bairro é “esquecido” e “não tem o mínimo de atendimento”. Esta fala resume décadas de negligência. Enquanto faltam postos de saúde, escolas adequadas, transporte público eficiente e áreas de lazer, a primeira grande obra destinada ao bairro é uma prisão. A mensagem implícita é clara: para a periferia, só sobram os projetos que ninguém mais quer.
A Defesa do Indefensável
O vereador Fábio Balako (PODE) defendeu a construção da casa de custódia no Jardim França, mas sua argumentação – não detalhada na cobertura do evento – precisaria ser extraordinária para justificar por que um bairro carente de infraestrutura básica deveria receber como prioridade um estabelecimento prisional de grande porte.
As Perguntas que Ficam
Várias questões críticas permanecem sem resposta:
Por que o Jardim França? Entre todos os bairros de Sarandi, por que justamente um dos mais carentes foi escolhido para abrigar uma casa de custódia com 360 vagas?
Onde estão as contrapartidas? Se a obra realmente trouxer benefícios, quais investimentos paralelos serão feitos na infraestrutura social do bairro?
A comunidade foi consultada? O processo de tomada de decisão incluiu audiências públicas adequadas com os moradores, ou eles só foram “informados” depois da decisão tomada?
Impacto social? Quais estudos foram feitos sobre o impacto da instalação de uma prisão de grande porte em uma comunidade já vulnerável?
Quem votou a favor e quem votou contra?
