Única mulher na Câmara de Sarandi, Thay Menegazze rompe com o Executivo após ataque

Apesar da gravidade do ataque, o presidente da Câmara, vereador Dionizio, não se manifestou publicamente sobre o caso. O silêncio da principal autoridade do Legislativo diante de um evidente caso de violência política de gênero causou indignação nas redes e entre lideranças femininas locais.

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A vereadora Thay Menegazze (PL), única mulher eleita entre os dez parlamentares da Câmara Municipal de Sarandi, oficializou o rompimento com o governo do prefeito Carlos de Paula (PSB) após ser alvo de um ataque político nas redes sociais com forte conotação misógina e difamatória.

ataque servidor
Fonte: Print divulgado do post de ataque a vereadora.

O vídeo divulgado no Instagram e Facebook faz uso de montagem que sobrepõe o rosto da vereadora ao de uma palhaça, adiciona trilha sonora irônica e acusações falsas — entre elas, a de divulgar um estúdio de pilates sem alvará ou licença sanitária. O problema é que essa fiscalização não é competência do Legislativo, mas sim da Vigilância Sanitária e da Secretaria da Fazenda, ambas vinculadas ao Poder Executivo.

O conteúdo foi divulgado por Luiz Sidnei de Moraes, servidor comissionado da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, o que agrava ainda mais a situação, uma vez que o ataque parte de dentro da estrutura do governo municipal, evidenciando o uso indevido de cargo público para fins de perseguição política.

Silêncio institucional e solidariedade isolada

Apesar da gravidade do ataque, o presidente da Câmara, Dionízio da Diocar (PSB), não se manifestou publicamente sobre o caso. O silêncio da principal autoridade do Legislativo diante de um evidente caso de violência política de gênero causou indignação nas redes e entre lideranças femininas locais.

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Presidente da Câmara Municipal Dionízio Aparecido Viaro (PSB)

A única manifestação de apoio vinda do plenário partiu do vereador Bianco (PT), que repudiou a ação nas redes sociais e manifestou solidariedade à colega parlamentar.

O discurso de resistência: “Isso é perseguição, isso é crime”

A resposta da vereadora veio de forma contundente durante sessão ordinária, quando ela usou a tribuna para denunciar o que chamou de uma “tentativa orquestrada de desmoralização”:

Eu entrei nessa casa com as mãos limpas e podem ter certeza que eu vou sair com as mãos limpas. […] Hoje me vejo obrigada a usar esse espaço para relatar um fato triste que caracteriza violência política em Sarandi.

Thay apontou o absurdo da acusação:

Eu entrei nessa casa com as mãos limpas e podem ter certeza que Desde quando cabe a um vereador fiscalizar alvará sanitário e licença de funcionamento de empresas privadas? Quem deve realizar essa fiscalização é a Vigilância Sanitária e a Secretaria Municipal da Fazenda.

Ela também ressaltou a contradição da prefeitura, que mantém escolas e CMEIs funcionando sem licenças obrigatórias:

“Enquanto crianças estudam em espaços sem documentação básica de segurança e saúde, o que se questiona é se a vereadora conferiu licença na parede de um estúdio de pilates. Isso não é zelo pela legalidade. Isso é perseguição política. Isso é violência de gênero. E isso é crime.”

Rompimento oficial com a base governista

Thay Menegazze vinha mantendo postura crítica, mas colaborativa com a base do prefeito Carlos de Paula. Com o ataque público e a omissão institucional que se seguiu, o rompimento se tornou irreversível. A vereadora agora se posiciona como oposição declarada e promete continuar sua atuação fiscalizatória com ainda mais firmeza:

“Eu não tenho projeto de poder, como agora infelizmente está sendo demonstrado por outros. […] Meu compromisso é com o povo.”

E agora?

A denúncia levanta discussões jurídicas e políticas. O servidor pode ser enquadrado por assédio moral, improbidade administrativa e até por violência política de gênero, conforme a Lei 14.192/2021. Também cresce a pressão popular para que o Legislativo adote uma postura institucional firme diante da gravidade do caso — algo que até o momento não ocorreu por parte da presidência da Casa.

Mais do que um episódio isolado, o caso expõe o ambiente político de Sarandi: intolerante à crítica, hostil à atuação feminina e permissivo ao uso da máquina pública como ferramenta de ataque político.

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